Eu mudei muito durante a pandemia, tanto por dentro quanto por fora, tanto que muitas vezes ao olhar no espelho ou para dentro de mim mesma eu não me reconhecia e isso foi muito desesperador e angustiante. Não tenho enxergado mais todo dia aquela mulher majestosa, sorridente que ria da cara do perigo e dançava com a morte sem temê-la. Tem dias que vejo uma garotinha amedrontada, chorona que se esconde pelos cantos com medo de estranhos e barulhos altos e isso me derruba de uma maneira que nem sei como expressar. Não estou acostumada a me sentir vulnerável e a me verem no meu momento de fragilidade, isso é muito novo e ainda não aprendi a lidar com isso.
Estava acostumada a ser aquela que ouvia e dava conselhos, que despertava olhares de admiração de alguns e agora estou nas sombras choramingando boa parte do tempo, sem vontade ou força alguma de voltar a brilhar novamente na maior parte dos dias. Tem sido tão difícil e tão pesado lidar com tudo que está acontecendo na minha vida no momento! Procuro me manter positiva, crer que amanhã será diferente, mas, o amanhã chega e a minha fragilidade continua lá e a raiva que sinto de mim aumenta junto com a frustração de não conseguir ser forte mais um dia.
É inegável que o mundo todo mudou, jamais seremos os mesmos de antes do covid. Seria muita inocência e pretensão minha desejar ser a mesma de antes, eu só quero me reencontrar, me reconectar comigo mesma e tornar a ser aquela mulher forte, inabalável que nenhum ataque fazia cosquinha no escudo defletor, a Lady Sith com seu sabre de luz implacável que não se intimida diante da batalha. Não nego que eu fui até o fundo do poço nessa pandemia, enfrentei pensamentos sombrios demais para citar aqui, houve vontade de sumir para sempre e nunca mais acordar, mas, eu ainda estou por aqui e sei que se o beijo gelado não me tocar antes, vou continuar resistindo por mais um tempo. Ainda arde dentro de mim uma faísca, ainda há uma vontade de seguir em frente e perseverar e incomodar, sim incomodar esse mundinho que ama um padrãozinho e se incomoda com quem diz coisas desconfortáveis tipo eu hahahaha.
Beijões gordos,
Claudia Rocha