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quinta-feira, 8 de abril de 2021

Não Me Reconheço Mais Na Pandemia

 


Eu mudei muito durante a pandemia, tanto por dentro quanto por fora, tanto que muitas vezes ao olhar no espelho ou para dentro de mim mesma eu não me reconhecia e isso foi muito desesperador e angustiante. Não tenho enxergado mais todo dia aquela mulher majestosa, sorridente que ria da cara do perigo e dançava com a morte sem temê-la. Tem dias que vejo uma garotinha amedrontada, chorona que se esconde pelos cantos com medo de estranhos e barulhos altos e isso me derruba de uma maneira que nem sei como expressar. Não estou acostumada a me sentir vulnerável e a me verem no meu momento de fragilidade, isso é muito novo e ainda não aprendi a lidar com isso.

Estava acostumada a ser aquela que ouvia e dava conselhos, que despertava olhares de admiração de alguns e agora estou nas sombras choramingando boa parte do tempo, sem vontade ou força alguma de voltar a brilhar novamente na maior parte dos dias. Tem sido tão difícil e tão pesado lidar com tudo que está acontecendo na minha vida no momento! Procuro me manter positiva, crer que amanhã será diferente, mas, o amanhã chega e a minha fragilidade continua lá e a raiva que sinto de mim aumenta junto com a frustração de não conseguir ser forte mais um dia.



Contudo, há dias em que eu lembro que está tudo bem não ser forte o tempo todo, que eu posso sim ter meus momentos vulneráveis e mostrar minha fragilidade sim, até que vem a pedrada do julgamento alheio e começo a me culpar por não estar bem ainda. Me culpo por permitir que pequenas coisas hoje me afetem, quando antigamente não afetavam. Aí depois que me culpo eu me dou conta que saúde mental tem suas similaridades com a saúde física, se o nosso sistema imunológico não está legal e eu ficar doente a defesa do organismo ficará comprometida, assim é com o lado psicológico, se não estou bem, minhas defesas mentais estão comprometidas, logo eu estou mais vulnerável e serei mais facilmente atingida por ataques pessoais, haters e coisas similares. E é bem desconfortável quando você estava acostumada a ser forte o tempo todo e nada te abalava, nada te atingia e de repente tu se vê nua das suas carapaças, sem seu escudo defletor. Ainda estou aprendendo a lidar com essa fragilidade toda que me irrita profundamente e desconcerta.



Antes eu era uma ogra guerreira mano, partia para cima de qualquer batalha ou inimigo independente das chances de vitória. No melhor estilo "por Espartaaaaaa!" E hoje eu fico me olhando e falo, mulheeer, cadê você? Não, não é vitimismo, estou desnudando a alma aqui e se tu não tem a sensibilidade de me ler, enfim, realmente é uma habilidade para quem tem vontade e que vem com o tempo. Acho que esse papo de vitimismo só prejudica a prática de as pessoas entrarem em contato com seus sentimentos, medos mais profundos, reconhecê-los, encará-los e superá-los sabe. Não estou culpando ninguém pelo meu estado, estou apenas reconhecendo que não tô bem, não me reconheço e não tô sabendo muito bem como lidar com isso. E reconhecer o problema é o primeiro passo. O segundo passo foi começar a organizar os sentimentos em forma de texto, nossa, voltar a parir textos tem sido bem terapêutico e libertador e tem me auxiliado a curar algumas coisas que estavam entaladas e me sufocando aqui dentro.


É inegável que o mundo todo mudou, jamais seremos os mesmos de antes do covid. Seria muita inocência e pretensão minha desejar ser a mesma de antes, eu só quero me reencontrar, me reconectar comigo mesma e tornar a ser aquela mulher forte, inabalável que nenhum ataque fazia cosquinha no escudo defletor, a Lady Sith com seu sabre de luz implacável que não se intimida diante da batalha. Não nego que eu fui até o fundo do poço nessa pandemia, enfrentei pensamentos sombrios demais para citar aqui, houve vontade de sumir para sempre e nunca mais acordar, mas, eu ainda estou por aqui e sei que se o beijo gelado não me tocar antes, vou continuar resistindo por mais um tempo. Ainda arde dentro de mim uma faísca, ainda há uma vontade de seguir em frente e perseverar e incomodar, sim incomodar esse mundinho que ama um padrãozinho e se incomoda com quem diz coisas desconfortáveis tipo eu hahahaha.








Beijões gordos,

Claudia Rocha