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Foto: Meg Gaiger/Harpyimages |
Nenhuma criança cresce se depreciando e com uma imagem negativa a respeito de si própria. Entretanto, a formação de uma auto-imagem negativa pode germinar a partir de relações disfuncionais desde a infância. Uma mãe que não acalenta seu filho com afeto e não atende as necessidades vitais dele, pode proporcionar repetidas experiências angustiantes. Críticas freqüentes e olhares pejorativos para o corpo do filho podem marcar a auto imagem da criança de forma negativa.
Na cultura em que vivemos, o corpo é visto como objeto mercadológico, não existe lugar para a feiúra, nem para a gordura. Paga-se qualquer preço para chegar perto do padrão de beleza imposto pela mídia, submetendo o corpo a cirurgias, tratamentos estéticos, medicações e muitos suplementos. Estudos apontam que a mídia promove distúrbios de imagem corporal. Modelos e atrizes vêm se tornando mais magras ao longo das décadas e indivíduos reportam terem aprendido técnicas não-saudáveis de controle de peso (indução de vômitos, exercícios físicos rigorosos, dietas drásticas) através dos veículos de comunicação.
Menos de 5% da população tem possibilidades genéticas de alcançar padrões de beleza tão extremos. Este contexto contemporâneo acaba favorecendo uma enorme insatisfação em relação ao próprio corpo. Os transtornos psiquiátricos relacionados a distorção da imagem corporal são marcados por elevado grau de sofrimento físico e psíquico, associado a perdas sociais e ocupacionais significativas além de produzirem comportamentos danosos para a saúde física do paciente.
Patologias como anorexia nervosa, bulimia nervosa e dismorfia muscular vêm aumentando drasticamente nas últimas décadas. O Brasil é o segundo país com o maior número de cirurgias plásticas realizadas no mundo, e é o campeão no consumo diário de moderadores de apetite. Essa excessiva preocupação com o peso e forma do corpo está aparecendo cada vez mais cedo na vida das crianças e adolescentes que podem pagar um preço muito alto por isso.
O Que é Imagem Corporal?
A Imagem Corporal foi conceituada como a visão interna tridimensional que temos do nosso corpo, ou seja, a imagem do próprio corpo formada em nossa mente. Sabe-se que essa imagem engloba não só aspectos perceptivos, como também afetivos, sociais, culturais e comportamentais. Como o indivíduo se sente em relação a ele, o modo como se move, como experimenta e se relaciona com suas sensações corporais e as mensagens que recebe a respeito de si. A imagem corporal se desenvolve desde o início da vida e está sempre se transformando, está também relacionada com o conceito que temos de nós mesmos e com nossa auto-estima.
Como se forma nossa Imagem Corporal?
No início da vida, o bebê não tem a noção de ser alguém separado da mãe . Vivencia suas experiências através de sensações corporais através das primeiras vivências com a alimentação e cuidados maternos. A figura materna tem fundamental importância na maneira como a criança vai se percebendo; através do contato mútuo e do atendimento ou não das necessidades básicas, mãe e criança vão construindo experiências prazerosas e desprazerosas. Por volta dos 18 meses a criança estabelece em sua mente uma noção de ser alguém diferente da mãe, e passa a ser capaz de se reconhecer no espelho. Neste momento, se consolida o senso de identidade estabelecido a partir de uma representação mental do corpo.
Como a mãe ou o cuidador podem ajudar a promover uma imagem corporal positiva no início da vida?
A figura materna deve ser uma presença que ofereça segurança e afeto no cuidado do bebê. É muito importante que desde cedo a mãe tente reconhecer as necessidades da criança. Um exemplo é tentar discriminar os diversos choros do filho atendendo a eles adequadamente, dando alimento no momento da fome, coberta no choro de frio. Desta maneira o cuidador vai ajudando o bebê a identificar suas sensações corporais, dando atenção aos diversos sinais que o corpo envia. Mais tarde quando estiver com fome irá procurar alimento, quando estiver cansado, irá descansar, etc.
A figura materna deve tentar evitar que a criança tenha um excesso de experiências negativas com o corpo, possibilitando a experimentação do corpo como fonte de prazer e não de angústia, olhar, tocar e cuidar do corpo da criança sempre com carinho e respeito. Nomear as partes do corpo do filho e oferecer estímulos sensoriais também ajuda na formação do esquema e consciência corporal. Os pais devem favorecer atividades motoras e a possibilidade da criança explorar suas potencialidades, além da força física, vivenciando o corpo, seu funcionamento e todos os mecanismos que vão além de uma forma.
Na adolescência: como ajudar o jovem neste momento de mudanças físicas e psicológicas?
Antes da entrada na adolescência é importante preparar o filho para as mudanças físicas que o corpo sofrerá nesta época. Vale compartilhar suas próprias experiências e ajudá-lo a ter uma visão crítica da mídia a respeito dos padrões impostos de beleza. Valorizar o que ele tem de único e singular, e permitir que explore outros modelos diferentes do que tem em casa para buscar espontaneamente o seu próprio estilo. Este é um momento de progressiva separação dos pais, onde muitas vezes o jovem precisa ter a sensação de pertencer a algum grupo para poder existir na sua singularidade. É aí que começam a ter seu jeito de se vestir, estilo de andar e falar típicos do grupo a que se identifica.
A adolescência representa outro marco na identidade. As mudanças físicas e pressões psicológicas impulsionam uma nova organização do esquema corporal. Neste momento aparecem vários conflitos:
O amadurecimento físico traz mudanças expressivas nas curvas, aumento de peso, pêlos, tudo isso junto com padrões de beleza impostos pela mídia com modelos de referência quase inatingíveis. Logo em seguida o jovem se vê frente a escolha profissional e a fortes pressões psicológicas. Neste momento de transição, de despedida do mundo da infância e entrada no mundo adulto, o jovem que cresceu com uma identidade frágil e uma imagem corporal negativa tem maiores chances de desenvolver distúrbios alimentares, depressão ou transtornos psiquiátricos.
Doenças da Beleza: Isto existe?
A cada dia percebemos mais patologias que envolvem a questão da beleza. A incidência de transtornos alimentares praticamente dobrou nestes últimos 20 anos. Apesar de atingir predominantemente as mulheres (9 mulheres para cada homem), a incidência entre o público masculino e infantil também tem aumentado. As crianças, mesmo não apresentando os mesmos sintomas dos jovens e adultos, já se sentem gordas e com vergonha em expor o próprio corpo. A prevalência de anorexia nervosa (AN) varia de 2% a 5% em mulheres adolescentes e adultas. Nos Estados Unidos é a terceira doença crônica mais comum entre adolescentes, só perdendo para a obesidade e a asma. Estas jovens depositam sua auto-estima no peso e formas do corpo e apresentam uma grande dificuldade de identificar sensações corporais, necessidades fisiológicas e estados emocionais. Com isso, acabam se isolando socialmente e vivem em função de dietas, contagem calórica ou episódios de compulsão alimentar seguidos de comportamentos compensatórios como vômitos ou uso de laxantes. Já a Dismorfia Muscular (DISMUS) é um subtipo do transtorno Dismórfico Corporal , que se caracteriza por uma preocupação específica com o tamanho do corpo e com o desenvolvimento dos músculos. Este já é um transtorno presente quase que exclusivamente nos homens que apesar da visível hipertrofia procuram ativamente aumentar sua massa muscular através de exercício excessivos, do uso de substâncias ergogênicas e de dietas hiperprotéicas.
Comer quase nada, ficar horas em jejum, tomar anabolizantes, se mutilar, se exercitar exaustivamente, perder o prazer da alimentação, abusar de laxantes e diuréticos, tudo vale para alcançar a imagem ideal. Precisamos ajudar nossas crianças e jovens a estabelecerem uma relação mais harmoniosa com o corpo, estando atentos não só a quanto ele pesa e que formas ele tem, mas como ele funciona, o que ele sente, que desejos ele tem. Um corpo pulsante que vibra se emociona e que pode ser único e singular dentre todos os outros.
Texto elaborado a partir das seguintes referências bibliográficas:
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Beijões Queen Size,
Claudia Rocha GorDivah