sábado, 22 de dezembro de 2018

Voltei de Novo

Oi minhas gordivahs! Eu de novo voltei pro blog, tem sido quase três anos de indas e vindas e a luta contra a chikunguya realmente tem me deixado prostrada por meses, mas hoje eu acordei num dia bom, o que é muito raro, muito raro mesmo. E resolvi trabalhar, produzir, produzir e produzir conteúdo pra vocês.

Eu estou numa batida de trabalho muito acelerada, que tem me levado aos meus limites e muitas vezes até mesmo a ultrapassá-los. Embora desgastante, é muito gratificante ver o quanto sou capaz de produzir, mesmo que isso drene minha energia e eu não consiga tocar meus projetos paralelos. É bom saber que estou voltando a evoluir, mesmo que a passos de formiguinha, ainda que para o ritmo ultra acelerado do Rio de Janeiro pareça nada, como eu sempre costumo ouvir hahaha Para euzinha, esse ser humaninho aqui que vos escreve mesmo com dor, sim, ainda sinto dor, cada conquista, leve melhora, é um baita motivo pra celebrar.

Antes eu me sentia uma múmia, mal conseguia dar 500 passos por dia, hoje eu ando em média 3 a 4 km todo dia, contando todos os passos, já consigo pegar um trem, um metrô, consigo andar por mais de um minuto. Antes eu era um muminha cheia de dor e adesivos analgésicos e térmicos pelo corpo, cheia de dor, encurvada, triste e chorosa.

Agora estou recuperando minha mobilidade até então ultra reduzida, estou correndo atrás do meu condicionamento físico perdido, pois fui obrigada a levar um estilo de vida estritamente sedentário e gente na boa, quem aí é sedentário ao extremo porque quer, como consegue viver assim? Socorro! Odiei, odiei, odiei perder minha facilidade de subir ladeirões, andar horrores. É horrível você não conseguir andar direito, sentir dor, não ter resistência, como vocês conseguem só andar de carro? Faz isso não gente! Essa vida de só andar de Uber não faz bem pro coração nem pro bolso não, se você tem saúde, se você consegue andar, faça uso da sua saúde, saiba que tem gente que daria tudo pra ter a sua capacidade física para sair andando por aí, mas, por motivo de doença não consegue.

Eu queria estar no Hashtag Moda Plus hoje, mas ainda não me recuperei o bastante para encarar o desgaste físico de comparecer a eventos, mas tô animada porque sei que estou mais perto de conferir essa maravilha que mudou o cenário da Moda Gorda carioca.











sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Empresas são penalizadas por gordofobia no trabalho


A "gordofobia" é uma forma de discriminação, caracterizada pela falta de tolerância com pessoas consideradas acima do peso ideal para aquilo que se convencionou como "padrão de beleza". Apesar da obesidade (18,9%) e o sobrepeso (54%) serem uma realidade para mais de 70% da população brasileira (Ministério da Saúde, 2018), os episódios envolvendo gordofobia têm sido recorrentes e, não raro, resultam no suicídio da vítima.

É o caso de duas adolescentes de 12 e 17 anos que cometeram suicídio após serem constantemente agredidas nas escolas em que estudavam. Recentemente, ao publicar nas redes sociais um vídeo para promover o movimento "outubro rosa", uma bailarina foi vítima de gordofobia, sofrendo ofensas online com relação à sua forma física. 

Em outro episódio, uma cozinheira sofreu assédio moral equiparado à discriminação por gordofobia no ambiente de trabalho, praticada por uma colega. Neste caso, a Justiça do Trabalho condenou a empresa por não zelar pelo ambiente de trabalho e proteger a trabalhadora.

Vale lembrar que, seja online ou offline, os atos de gordofobia configuram crime e estão sujeitos à reparação de danos morais e materiais na esfera civil.

Por isso, as vítimas, ou em sua ausência, seus familiares, devem registrar boletim de ocorrência junto à autoridade policial competente, apresentando eventuais provas das agressões, como prints das redes sociais identificando as ofensas e seus autores, gravações, testemunhas, etc., além de buscar, o mais rápido possível, apoio jurídico especializado, para que possam ser adequadamente orientadas a respeito da condução da ação penal, mecanismos jurídicos para fazer cessar as agressões e vias de reparação dos danos sofridos.

Nesse sentido, decisão recente do Tribunal Superior do Trabalho (TST) reconheceu a culpa gravíssima da empresa e dobrou o valor da indenização por danos morais devido a uma trabalhadora vítima de gordofobia.

Por isso, a gordofobia extrapola a preocupação exclusiva das vítimas, e passa a ser um problema para as empresas que são ou podem vir a ser palco das agressões. 

É pacífico na jurisprudência que as empresas são responsáveis por manter um ambiente saudável nas suas dependências, devendo coibir toda e qualquer prática ofensiva à integridade moral e física das pessoas, bem como por identificar e fazer cessar eventuais agressões que sejam praticadas contra seus colaboradores ou clientes.

Isso significa que, além do autor-agressor ou de seus responsáveis legais, as empresas podem - e devem - responder judicialmente pela reparação dos danos experimentados pelas vítimas de gordofobia e até mesmo por seus familiares, quando for o caso.

Diante desse quadro, a recomendação é que gestores de recursos humanos e relacionamento com o cliente dediquem atenção especial ao tema, a fim de que possam criar políticas de prevenção à gordofobia e verificar se a empresa possui rotinas bem definidas que permitam a denúncia, identificação e solução dos casos com a maior rapidez possível, evitando ao máximo a exposição da vítima.

Para isso, a assessoria jurídica especializada é capaz de orientar a condução dos casos de gordofobia adequadamente, atuando com eficiência com vistas a limitar a extensão dos danos e estabelecer os remédios jurídicos aplicáveis a cada caso.


Daniela Lopomo Beteto é advogada especialista em Direito do Trabalho no Trevisioli Advogados


terça-feira, 23 de outubro de 2018

Semana da Visibilidade Assexual 2018



Uma nova semana da visibilidade assexual chegou e quase não se vê nada nas redes sociais brasileiras sobre, o que já era esperado, ainda mais no período eleitoral que estamos vivendo, mas, este post não é sobre isto. Poucos devem lembrar, eu me descobri assexual e revelei isto para as seguidoras e algumas pessoas se interessaram pelo assunto. E me trouxe uma alegria imensa saber que existiam outras pessoas como eu, no caso demissexual. Eu sempre tive essa coisa de precisar me conectar para ter algo com alguém, principalmente sexo. Eu nunca funcionei sem um click, uma ligação com o outro e me sentia tão antiquada por isso.

A cada ano a data da semana da visibilidade assexual muda

Não era uma escolha racional, era simplesmente como eu funcionava, e eu não entendia como podia ser assim, me causava angústia não entender como eu poderia ser tão diferente das minhas outras amigas que se interessavam por inúmeros caras desconhecidos e conseguiam ter sexo casual sem nem precisar conversar muito antes, ou conhecer um pouco o outro. Achavam que eu era santinha, mas, não era isso, nunca foi isso.



E o mais louco na assexualidade é que não há uma regra fixa, UM JEITO CERTO ou errado de ser assexual (ace), cada um vivencia a sua sexualidade de sua própria maneira, uns com sexo sim, outros sem sexo nenhum. A assexualidade é um termo guarda-chuva, um espectro onde você pode experimentar zero atração sexual ou alguma atração sexual em condições diferentes do alosexuais, como é o caso dos gray-a e demissexuais. Eu acho errado classificar os demi e gray-A fora do espectro ace e invalidar sua existência, dizendo que só pode ser ace, se você experiencia nenhuma atração sexual. Eu sem uma ligação, sem uma conexão, sou totalmente ace, mas se crio esse laço com alguém aí a atração surge, o que não me torna menos ace que um arromântico por exemplo. A minha excitação requer uma ligação além do estímulo que funciona com a maioria das pessoas, seria uma forma simplista de explicar, mas acho que é por aí.

Alguns símbolos ace para nos reconehcerem


E então, será que você conhece algum ace? Ou será que você também é um de nós?











Beijões Gordos,

Claudia Rocha GorDivah

domingo, 30 de setembro de 2018

A Arte de Viver Com Coração Partido

Taí algo que domino e sou especializada em ter: Coração Partido. Nunca "sou sua, mas não posso ser" foi tão real. Acho que à medida que os anos passam, eu me torno mais burra e impulsiva. A vida é mais breve que o fôlego que a mantém a cada instante. E quando e se vocês tiverem a oportunidade de completar uns 90 anos de vida como eu, e uns 900 anos de amar e se entregar livremente, talvez me entendam.









Beijões Gordos,

Claudia Rocha GorDivah

terça-feira, 17 de julho de 2018

Chikungunya provoca doenças irreversíveis nos olhos e membros inferiores

Pessoas afetadas pelo vírus tiveram de aprender a conviver com a dor.


Dores nas articulações, pernas pesadas, inchaço nos pés e dificuldade em caminhar ou correr, são algumas das características marcantes da chikungunya que podem persistir por muito tempo depois da fase aguda da infecção. Os pesquisadores estão preocupados neste momento com os danos na fase crônica da doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que deixam sequelas vasculares e oculares que podem ser irreversíveis. 

Danos irreversíveis nos olhos
Um estudo recente conduzido em Feira de Santana, na Bahia, avaliou que mais da metade dos pacientes com chikungunya apresentaram alterações oculares. O responsável pela pesquisa, o médico oftalmologista Hermelino de Oliveira Neto, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), monitorou 44 pacientes com exames positivos para a doença, uma vez por mês, de novembro/2016 a janeiro/2017.

O que se pode constatar é que, 54% do total de pacientes apresentou lesões nos olhos. Em 90% dos casos é possível tratar o problema, porém entre 5% a 10% dos pacientes, foi detectada uma lesão importante na retina e no nervo óptico, que resultou em uma diminuição severa e irreversível na visão.


Ainda não há tratamento para esse tipo de atrofia óptica, que em situações extremas pode levar a uma cegueira sem retorno. “É importante termos o conhecimento de que essa doença cega. Tenho uma paciente que está cega por uma doença que poderia ser evitada”, diz Hermelino. 

Até o momento não se conhece o mecanismo pelo qual o vírus atua afetando a visão. Há uma hipótese de que se trata de uma reação autoimune, quando os anticorpos produzidos para combater o vírus acabam gerando um processo inflamatório muito intenso e agressivo aos olhos.

Doenças vasculares irreversíveis
Já não bastasse as complicações crônicas nos olhos, uma pesquisa realizada no Hospital das Clínicas da Universidade de Pernambuco (UFPE), de março a novembro de 2016, revelou lesões vasculares irreversíveis também provocadas pela doença.

Ao todo foram analisados 32 pacientes com sintomas como pés e pernas inchados, cãibras, dores nas articulações dos membros inferiores e dificuldade em caminhar. Destes, 20 continuaram sendo acompanhados, e após os exames, 65% apresentaram alterações crônicas nos vasos dos membros inferiores.


A cirurgiã vascular responsável pelo estudo, Catarina Almeida, constatou em exames de linfocintilografia, problemas como linfedema agudo e edema no dorso do pé. Isto é, acúmulo de líquido nas pernas e peito do pé devido a um bloqueio no sistema linfático. Assim como nos problemas oculares, não se tem a certeza da causa dessas sequelas, e o fato dos membros inferiores serem os mais afetados.

Assim como nos olhos, os danos vasculares irreversíveis preocupam os pesquisadores, pois os pacientes ficam mais susceptíveis a desenvolver um problema secundário nos membros inferiores, como uma segunda infecção, dificuldade em cicatrização, e tantos outros. 

Aprendendo a conviver com a dor
Enquanto não há uma solução para os danos crônicos da doença, os pacientes aprenderam a conviver com a dor. Alguns recorrem a automedicação com antiinflamatórios, quando bate uma dorzinha aqui ou ali. Outros partiram para a drenagem linfática, meias elásticas, fisioterapia, e terapias alternativas, como a fitoterapia, reiki, dentre outras. Enfim, os relatos são de uma busca pelo fim das dores; dores que diminuem a qualidade de vida daqueles que sofrem a mais de um ano com as consequências da picada de um mosquito tão devastador.

Jeferson Machado Santos.
CRF-SE: 658.
Farmacêutico pela Universidade Federal de Sergipe - UFS.
Habilitação em Bioquímica Clínica pela Universidade Federal de Sergipe - UFS.
Especialista em Administração de Empresas pela FIJ-RJ.
Especialista em Farmacologia e Interações Medicamentosas pela Uninter-IBPEX.


Publicado aqui
















Beijões Gordos,

Claudia Rocha GorDivah
Snap: gordivah

segunda-feira, 16 de abril de 2018

GORDOFOBIA: Cartilha que associa gordo a botijão é distribuída a CRIANÇAS em escola de São José

A matéria abaixo foi publicada no G1, abaixo na íntegra. 

Vou me manifestar sobre este absurdo em outro post.

Cartilha foi distribuída em escola municipal em ação contra obesidade infantil. Especialistas questionam a maneira como o tema foi abordado. Pais reclamam que material reforça bullying contra as crianças. Prefeitura vai recolher material.

Em cartilha distribuída pela prefeitura, personagem engorda e diz que virou um botijão (Foto: Reprodução)


Uma cartilha com orientações sobre hábitos alimentares entregue para alunos de uma escola da rede municipal de São José dos Campos (SP) gerou polêmica . As mães reclamam da abordagem, considerada por elas preconceituosa e agressiva, ao tratar a obesidade infantil como um pesadelo. No material, uma história em quadrinhos traz personagens acima do peso que se comparam a um botijão e com medo de olhar no espelho. Após ser acionada pelo G1, a prefeitura disse que vai recolher o material. (leia mais abaixo)

A cartilha ‘A Fantástica Magia dos Alimentos - informações para uma alimentação saudável’ foi entregue aos alunos do 4º ano da escola municipal Maria de Melo, no Parque Industrial, na última sexta-feira (13). O material faz parte de um projeto desenvolvido na escola, na aula de educação física, para estimular a alimentação saudável e o combate ao sedentarismo.

No quadrinho, a personagem Alice sonha que está em um mundo rodeada pelas tentações das guloseimas e, quando engorda, tenta fugir. Na tirinha, ao se ver no espelho, Alice, não se reconhece e o espelho pede que ela 'não se assuste' com a imagem refletida. Ao tentar correr, ela ainda questiona se, por estar gorda, vai conseguir passa pela porta. Em outro trecho, a personagem diz pra si que precisa ser rápida para executar uma ação, mas não consegue por estar 'tão pesada'.

As mães reclamam da forma como a publicação tratou o tema obesidade. Para elas, o texto impõe às crianças medo da alimentação, distorção de imagem e reforça preconceitos como o que associa que pessoas acima do peso são devagares e roncam. Especialistas concordam. (leia mais abaixo)

Ao se ver no espelho, personagem se assusta por estar gorda' (Foto: Reprodução)


Patrícia Teles é mãe de um menino de 9 anos. O filho dela recebeu a cartilha e questionou o personagem se chamar de botijão. Ela contou que o filho é obeso, faz tratamento e que ela defende o combate aos preconceitos que o material destaca.

“Eu não quero que ele se veja assim. Ele tem alimentação saudável, pratica esporte e é uma criança normal e ativa. Tento mostrar que o corpo não é um problema e que ele ser saudável é o que importa. Faço isso em casa e aí ele chega a escola com um discurso completamente diferente? Isso estimula o bullying em sala”, avaliou.

Lilian Braz é mãe de uma menina de 9 anos que também recebeu o material. A mãe conta que é obesa e se sentiu ofendida com a publicação. “Eu sou mãe de menina e sei que existe uma pressão sobre a imagem das mulheres. Sendo uma mãe acima do peso eu trabalho para que minha filha não tenha medo da imagem, da comida. Isso foi um choque para nós”, disse.

No site da editora responsável pelo conteúdo do material, o material é descrito como ideal para crianças a partir dos seis anos. A publicação é descrita como 'uma divertida história em quadrinhos que vai possibilitar às crianças uma viagem pelo mundo da fantasia e conhecer hábitos alimentares prejudiciais à saúde'. A editora ainda diz que há no material os dez passos para não deixar que a magia dos alimentos se transforme em um 'monstro'.

Outro lado

A reportagem do G1 questionou a editora sobre o conteúdo da cartilha e aguardava o retorno até a publicação. O dono da editora Alexandre Carlos disse apenas, por telefone, preliminarmente, que a obra foi mal interpretada e que tentou entrar 'dentro do imaginário da criança' para mostrar a crueldade que é a obesidade infantil.

A Secretaria de Educação e Cidadania de São José dos Campos informou em nota que essa cartilha foi feita pela gestão passada e foi distribuída por uma professora na escola. "A Secretaria reconhece e agradece as observações feitas pelos pais e informa que já determinou que todos os materiais sejam recolhidos", concluiu a nota

A gestão passada negou que a cartilha teria sido adquirida pelo governo Carlinhos Almeida. "A cartilha 'A Fantástica Magia dos Alimentos', não foi e nunca seria adquirida pelo governo Carlinhos Almeida por não atender a política pedagógica defendida pelo PT", informou por nota.

"Muito nos espanta o governo Felicio, além de transferir a responsabilidade de sua administração, não saber dos atos de seu próprio governo", complementou.

O G1 consultou o Portal da Transparência da Prefeitura de São José dos Campos e comprovou que a cartilha foi adquirida pela gestão de Felício Ramuth em novembro de 2017. Foram compradas 10 mil cartilhas ao custo de R$ 18.900, com a dispensa de licitação.
Em tirinha, personagem questiona se, estando gorda, poderia passar pela porta (Foto: Reprodução)



Nota da blogueira: 

A matéria  foi publicada no G1 na íntegra, incluindo as legendas das imagens. Vou me manifestar sobre isto em outro post.

Aguardem!




Publicado originalmente aqui






Beijões Gordos,

Claudia Rocha GorDivah

quarta-feira, 14 de março de 2018

Ela Morreu?

Alguém perguntou lá no canal.
Morri ainda não gente, mas a chikungunya está quase conseguindo isso nestes dois anos de dores.

sábado, 6 de janeiro de 2018

Verão Sem Padrão - Relato Masculino

Eu sempre recebo relatos de moças sobre como nossas postagens nas redes as ajudaram. E não me recordo de ter recebido antes um relato masculino.

Ao abrir o inbox eu lembrei que tinha dado umas dicas de moda praia masculina para um moço chamado André, no final do ano e decidi perguntar como havia sido a viagem e tal.

E fiquei mega feliz em ver este depoimento dele como resposta:

"Retornei ontem, viagem de fim de ano junto com primos.
Confesso que foi uma das viagens mais fantásticas que já fiz, ir a praia depois de muitos anos me fez refletir muita coisa, coisas do tipo que gordo pode sim ir a praia, tomar sol, tomar cerveja, entrar no mar, mostrar o corpo sem medo...

Fiz de tudo que tinha direito, quanto ao que as pessoas pensavam ou imaginavam, pouco me importava, o que eu mais curti foi estar sem camiseta, curtir o mar e aproveitar cada segundo ali....foi mágico, maravilhoso....mas todo este sentimento de coragem trabalhei dias antes comigo mesmo....disse a mim mesmo, que eu posso e eu consigo me divertir....mesmo as pessoas olhando torto, pois para alguns ser gordo é uma doença e ir a praia então é absurdo...

Provei ao contrário...e aproveitei...amei as dicas e deram super certo....sigo sua rede social já faz um tempinho....

Quase não vejo depoimento de homens, mas eu faço questão de dizer que amo meu corpo..e todos a minha volta...beijao...e feliz 2018...."

Moços gordos VOCÊS também podem tudooo!!
Chega de se privar né!

Bjs gordos,

Claudia Rocha GorDivah

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Não Posso Ser Seu Contatinho

Muito menos um dos seus esquemas. Eu sou demissexual, isto quer dizer que eu preciso de vínculo , laço,  conexão, identificação para talvez sentir vontade de ficar com você. Eu não consigo usar um Tinder ou interagir em outros apps e já marcar um encontro, muito menos fazer isso com várias pessoas ao mesmo tempo. Eu nem consigo com uma, quanto mais com vários esquemas.

Eu não escolho ser assim, simplesmente sou desse jeito, nasci assim. Eu sou aquela paradona que gosta e precisa conversar muito, ser ouvida e também ouvir, uma que vai conversar de boas com você por horas se você deixar, sobre os mais variados assuntos. Comigo não haverá joguinhos porque eu nunca aprendi a jogar Sedução, haverá sinceridade, transparência e verdade. Se eu quiser algo eu vou dizer sim, se não quiser eu direi não.

Se eu me identificar com você, ainda assim eu vou querer saber mais sobre ti, te conhecer melhor para então ter qualquer coisa física. E se eu aceitar me encontrar com você, não se espante com a minha total falta de familiaridade com protocolos de encontros. Se eu quiser rir à vontade no primeiro encontro, eu vou rir, eu não vou estar preocupada em fazer você gostar de mim e fazer você querer me convidar de novo, eu vou estar pensando em nada, estarei agindo naturalmente pois não preciso te convencer de nada, nem me convencer de nada. Eu apenas estarei consciente do e no momento presente.

Quando eu te digo que não tenho contatinhos e você duvida, eu sorrio pois você não sabe a praga que é ser demissexual num mundo cheio de apps pós Tinder. TODO MUNDO tem vários esquemas e contatinhos, mas, eu realmente nem tenho um. Me conectar com alguém é raro e mais raro ainda é esta pessoa querer algo comigo. E sem esta conexão sou totalmente assexual, ninguém me desperta interesse. E com esta conexão, só a pessoa com quem estou ligada, me desperta desejo e vontade de estar junto, bem junto. Eu sei que para quem não vive a assexualidade, isto parece absurdo, mas, para uma demissexual que não é polirromântica é a mais pura verdade.

Eu não escolhi ser assim, apenas nasci deste jeito.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Vou Fugir Deste Lugar Baby


Existem coisas que acontecem em nossas vidas e que nos mudam para sempre, um dia, uma pessoa, uma palavra, um show da banda que você ama, uma viagem, um gesto, uma gafe, um afeto, um desafeto, dor física, dor emocional...existe tanta coisa que pode catalisar uma mudança em nós que para enunciar as principais eu precisaria de um mês direto escrevendo. Como a maioria aqui sabe, eu estou há 20 meses com chikungunya, sentindo dores físicas e emocionais um dia sim e no outro também e é uma guerra diária que travo para não permitir que a dor me consuma por completo e a constatação da minha incapacidade presente e frustração diária com uma pitada de superação a cada dia.

Por mais que eu resista, a realidade é que a dor me mudou muito, a tal ponto que estou precisando me redescobrir de novo e de novo todos os dias. E a cada dia que passa, mais eu me isolo e menos paciência eu tenho com gente de bad vibes ou comportamento que não me acrescenta nada de bom. E eu tenho sentido tanta raiva, tanta raiva que às vezes preciso me isolar pra olhar bem nos olhos dessa raiva e dialogar com ela, tentar entender suas razões e motivo de existir. E nesse looping louco eu me tornei uma fugitiva, eremita, o que seja. Há dias em que mal me reconheço por trás das lágrimas que rolam diariamente no meu rosto, mas eu sigo em frente, fugindo, me escondendo do mundo, das coisas, de pessoas novas porque eu mal consigo lidar comigo mesma, não acho justo me apresentar à alguém neste estado em que estou, estou fragilizada, fraca, triste, irada, sem paciência e com pouco bom humor. Estou acostumada já ao esquecimento, 20 meses com dor e incapacitada por causa dela tornaram as minhas redes mais silenciosas, amigos sumiram e não sobraram muitas pessoas que ainda se importem com o meu bem estar ou se interessem em saber dele e se tem uma coisa que eu nunca fiz é me intrometer na liberdade e esquecimento dos outros, todos que entram em minha vida são livre para sumirem se quiserem, permanecerem ou fazer o que acharem melhor, não sou de cobrar, de prender ou me agarrar á todo custo à outra existência além da minha. E assim como dou liberdade eu também a exerço como acho melhor para mim.

E tudo isso para confessar que está muito difícil permanecer por aqui, estou quase fazendo planos para sumir, desaparecer de vez porque eu simplesmente não sei mais lidar com tudo isso e nem quero mais, mesmo! Se eu tiver coragem o bastante para sumir e apagar toda minha vida online, peço que lembrem não de mim, mas de do amor e positividade que sempre dediquei à missão de tornar o mundo à minha volta um lugar melhor e que eu posso não existir mais por aqui, mas, todo esse amor que coloquei em movimento, ele sempre existirá em um cantinho do universo, em algum coraçãozinho que me permitiu entrar e plantar a sementinha do amor próprio.










Beijões Gordos,

Claudia Rocha GorDivah
Snap: gordivah

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Venha ver o pôr do sol – Lygia Fagundes Telles


ELA SUBIU sem pressa a tortuosa ladeira. À medida que avançava, as casas iam rareando, modestas casas espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil cantiga infantil era a única nota viva na quietude da tarde.

Ele a esperava encostado a uma árvore. Esguio e magro, metido num largo blusão azul-marinho, cabelos crescidos e desalinhados, tinham um jeito jovial de estudante.
– Minha querida Raquel.
Ela encarou-o, séria. E olhou para os próprios sapatos.
– Vejam que lama. Só mesmo você inventaria um encontro num lugar destes. Que idéia, Ricardo, que idéia! Tive que descer do taxi lá longe, jamais ele chegaria aqui em cima.
Ele sorriu entre malicioso e ingênuo.
– Jamais, não é? Pensei que viesse vestida esportivamente e agora me aparece nessa elegância…Quando você andava comigo, usava uns sapatões de sete-léguas, lembra?
– Foi para falar sobre isso que você me fez subir até aqui? – perguntou ela, guardando as luvas na bolsa. Tirou um cigarro. – Hem?!
– Ah, Raquel… – e ele tomou-a pelo braço rindo.
– Você está uma coisa de linda. E fuma agora uns cigarrinhos pilantras, azul e dourado…Juro que eu tinha que ver uma vez toda essa beleza, sentir esse perfume. Então fiz mal?
– Podia ter escolhido um outro lugar, não? – Abrandara a voz – E que é isso aí? Um cemitério?
Ele voltou-se para o velho muro arruinado. Indicou com o olhar o portão de ferro, carcomido pela ferrugem.
– Cemitério abandonado, meu anjo. Vivos e mortos, desertaram todos. Nem os fantasmas sobraram, olha aí como as criancinhas brincam sem medo – acrescentou, lançando um olhar às crianças rodando na sua ciranda. Ela tragou lentamente. Soprou a fumaça na cara do companheiro. Sorriu. – Ricardo e suas idéias. E agora? Qual é o programa?
Brandamente ele a tomou pela cintura.
– Conheço bem tudo isso, minha gente está enterrada aí. Vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr do sol mais lindo do mundo.
Perplexa, ela encarou-o um instante. E vergou a cabeça para trás numa risada.
– Ver o pôr do sol!…Ah, meu Deus…Fabuloso, fabuloso!…Me implora um último encontro, me atormenta dias seguidos, me faz vir de longe para esta buraqueira, só mais uma vez, só mais uma! E para quê? Para ver o pôr do sol num cemitério…
Ele riu também, afetando encabulamento como um menino pilhado em falta.
– Raquel minha querida, não faça assim comigo. Você sabe que eu gostaria era de te levar ao meu apartamento, mas fiquei mais pobre ainda, como se isso fosse possível. Moro agora numa pensão horrenda, a dona é uma Medusa que vive espiando pelo buraco da fechadura…
– E você acha que eu iria?
– Não se zangue, sei que não iria, você está sendo fidelíssima. Então pensei, se pudéssemos conversar um instante numa rua afastada…- disse ele, aproximando-se mais. Acariciou-lhe o braço com as pontas dos dedos. Ficou sério. E aos poucos, inúmeras rugazinhas foram se formando em redor dos seus olhos ligeiramente apertados. Os leques de rugas se aprofundaram numa expressão astuta. Não era nesse instante tão jovem como aparentava. Mas logo sorriu e a rede de rugas desapareceu sem deixar vestígio. Voltou-lhe novamente o ar inexperiente e meio desatento –Você fez bem em vir.
– Quer dizer que o programa… E não podíamos tomar alguma coisa num bar?
– Estou sem dinheiro, meu anjo, vê se entende.
– Mas eu pago.
– Com o dinheiro dele? Prefiro beber formicida. Escolhi este passeio porque é de graça e muito decente, não pode haver passeio mais decente, não concorda comigo? Até romântico.
Ela olhou em redor. Puxou o braço que ele apertava.
– Foi um risco enorme Ricardo. Ele é ciumentíssimo. Está farto de saber que tive meus casos. Se nos pilha juntos, então sim, quero ver se alguma das suas fabulosas idéias vai me consertar a vida.
– Mas me lembrei deste lugar justamente porque não quero que você se arrisque, meu anjo. Não tem lugar mais discreto do que um cemitério abandonado, veja, completamente abandonado – prosseguiu ele, abrindo o portão. Os velhos gonzos gemeram. – Jamais seu amigo ou um amigo do seu amigo saberá que estivemos aqui.
– É um risco enorme, já disse . Não insista nessas brincadeiras, por favor. E se vem um enterro? Não suporto enterros.
– Mas enterro de quem? Raquel, Raquel, quantas vezes preciso repetir a mesma coisa?! Há séculos ninguém mais é enterrado aqui, acho que nem os ossos sobraram, que bobagem. Vem comigo, pode me dar o braço, não tenha medo…
O mato rasteiro dominava tudo. E, não satisfeito de ter se alastrado furioso pelos canteiros, subira pelas sepulturas, infiltrando-se ávido pelos rachões dos mármores, invadira alamedas de pedregulhos esverdinhados, como se quisesse com a sua violenta força de vida cobrir para sempre os últimos vestígios da morte. Foram andando vagarosamente pela longa alameda banhada de sol. Os passos de ambos ressoavam sonoros como uma estranha música feita do som das folhas secas trituradas sobre os pedregulhos. Amuada mas obediente, ela se deixava conduzir como uma criança. Às vezes mostrava certa curiosidade por uma ou outra sepultura com os pálidos medalhões de retratos esmaltados.
– É imenso, hem? E tão miserável, nunca vi um cemitério mais miserável, é deprimente – exclamou ela atirando a ponta do cigarro na direção de um anjinho de cabeça decepada.- Vamos embora, Ricardo, chega.
– Ah, Raquel, olha um pouco para esta tarde! Deprimente por quê? Não sei onde foi que eu li, a beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da tarde, está no crepúsculo, nesse meio-tom, nessa ambigüidade. Estou lhe dando um crepúsculo numa bandeja e você se queixa.
– Não gosto de cemitério, já disse. E ainda mais cemitério pobre.
Delicadamente ele beijou-lhe a mão.
– Você prometeu dar um fim de tarde a este seu escravo.
– É, mas fiz mal. Pode ser muito engraçado, mas não quero me arriscar mais.
– Ele é tão rico assim?
– Riquíssimo. Vai me levar agora numa viagem fabulosa até o Oriente. Já ouviu falar no Oriente? Vamos até o Oriente, meu caro…
Ele apanhou um pedregulho e fechou-o na mão. A pequenina rede de rugas voltou a se estender em redor dos seus olhos. A fisionomia, tão aberta e lisa, repentinamente escureceu, envelhecida. Mas logo o sorriso reapareceu e as rugazinhas sumiram.
– Eu também te levei um dia para passear de barco, lembra?
Recostando a cabeça no ombro do homem, ela retardou o passo.
– Sabe Ricardo, acho que você é mesmo tantã…Mas, apesar de tudo, tenho às vezes saudade daquele tempo. Que ano aquele! Palavra que, quando penso, não entendo até hoje como agüentei tanto, imagine um ano.
– É que você tinha lido A dama das Camélias, ficou assim toda frágil, toda sentimental. E agora? Que romance você está lendo agora. Hem?
– Nenhum – respondeu ela, franzindo os lábios. Deteve-se para ler a inscrição de uma laje despedaçada: – A minha querida esposa, eternas saudades – leu em voz baixa. Fez um muxoxo.- Pois sim. Durou pouco essa eternidade.
Ele atirou o pedregulho num canteiro ressequido.
Mas é esse abandono na morte que faz o encanto disto. Não se encontra mais a menor intervenção dos vivos, a estúpida intervenção dos vivos. Veja- disse, apontando uma sepultura fendida, a erva daninha brotando insólita de dentro da fenda -, o musgo já cobriu o nome na pedra. Por cima do musgo, ainda virão as raízes, depois as folhas…Esta a morte perfeita, nem lembrança, nem saudade, nem o nome sequer. Nem isso.
Ela aconchegou-se mais a ele. Bocejou.
– Está bem, mas agora vamos embora que já me diverti muito, faz tempo que não me divirto tanto, só mesmo um cara como você podia me fazer divertir assim – Deu-lhe um rápido beijo na face. – Chega Ricardo, quero ir embora.
– Mais alguns passos…
– Mas este cemitério não acaba mais, já andamos quilômetros! – Olhou para atrás. – Nunca andei tanto, Ricardo, vou ficar exausta.
– A boa vida te deixou preguiçosa. Que feio – lamentou ele, impelindo-a para frente. – Dobrando esta alameda, fica o jazigo da minha gente, é de lá que se vê o pôr do sol. – E, tomando-a pela cintura: – Sabe, Raquel, andei muitas vezes por aqui de mãos dadas com minha prima. Tínhamos então doze anos. Todos os domingos minha mãe vinha trazer flores e arrumar nossa capelinha onde já estava enterrado meu pai. Eu e minha priminha vínhamos com ela e ficávamos por aí, de mãos dadas, fazendo tantos planos. Agora as duas estão mortas.
– Sua prima também?
– Também. Morreu quando completou quinze anos. Não era propriamente bonita, mas tinha uns olhos…Eram assim verdes como os seus, parecidos com os seus. Extraordinário, Raquel, extraordinário como vocês duas…Penso agora que toda a beleza dela residia apenas nos olhos, assim meio oblíquos, como os seus.
– Vocês se amaram?
– Ela me amou. Foi a única criatura que…- Fez um gesto. – Enfim não tem importância.
Raquel tirou-lhe o cigarro, tragou e depois devolveu-o
– Eu gostei de você, Ricardo.
– E eu te amei. E te amo ainda. Percebe agora a diferença?
Um pássaro rompeu o cipreste e soltou um grito. Ela estremeceu.
– Esfriou, não? Vamos embora.
– Já chegamos, meu anjo. Aqui estão meus mortos.
Pararam diante de uma capelinha coberta de alto a baixo por uma trepadeira selvagem, que a envolvia num furioso abraço de cipós e folhas. A estreita porta rangeu quando ele a abriu de par em par. A luz invadiu um cubículo de paredes enegrecidas, cheias de estrias de antigas goteiras. No centro do cubículo, um altar meio desmantelado, coberto por uma toalha que adquirira a cor do tempo. Dois vasos de desbotada opalina ladeavam um tosco crucifixo de madeira. Entre os braços da cruz, uma aranha tecera dois triângulos de teias já rompidas, pendendo como farrapos de um manto que alguém colocara sobre os ombro do Cristo. Na parede lateral, à direita da porta, uma portinhola de ferro dando acesso para uma escada de pedra, descendo em caracol para a catacumba.
Ela entrou na ponta dos pés, evitando roçar mesmo de leve naqueles restos da capelinha.
– Que triste é isto, Ricardo. Nunca mais você esteve aqui?
Ele tocou na face da imagem recoberta de poeira. Sorriu melancólico.
– Sei que você gostaria de encontrar tudo limpinho, flores nos vasos, velas, sinais da minha dedicação, certo?
– Mas já disse que o que eu mais amo neste cemitério é precisamente esse abandono, esta solidão. As pontes com o outro mundo foram cortadas e aqui a morte se isolou total. Absoluta.
Ela adiantou-se e espiou através das enferrujadas barras de ferro da portinhola. Na semi-obscuridade do subsolo, os gavetões se estendiam ao longo das quatro paredes que formavam um estreito retângulo cinzento.
– E lá embaixo?
– Pois lá estão as gavetas. E, nas gavetas, minhas raízes. Pó, meu anjo, pó- murmurou ele. Abriu a portinhola e desceu a escada. Aproximou-se de uma gaveta no centro da parede, segurando firme na alça de bronze, como se fosse puxá-la. – A cômoda de pedra. Não é grandiosa?
Detendo-se no topo da escada, ela inclinou-se mais para ver melhor.
– Todas estas gavetas estão cheias?
– Cheias?…- Sorriu.- Só as que tem o retrato e a inscrição, está vendo? Nesta está o retrato da minha mãe, aqui ficou minha mãe- prosseguiu ele, tocando com as pontas dos dedos num medalhão esmaltado, embutido no centro da gaveta.
Ela cruzou os braços. Falou baixinho, um ligeiro tremor na voz.
– Vamos, Ricardo, vamos.
– Você está com medo?
– Claro que não, estou é com frio. Suba e vamos embora, estou com frio!
Ele não respondeu. Adiantara-se até um dos gavetões na parede oposta e acendeu um fósforo. Inclinou-se para o medalhão frouxamente iluminado:
– A priminha Maria Emília. Lembro-me até do dia em que tirou esse retrato. Foi umas duas semanas antes de morrer… Prendeu os cabelos com uma fita azul e vejo-a se exibir, estou bonita? Estou bonita?…- Falava agora consigo mesmo, doce e gravemente.- Não, não é que fosse bonita, mas os olhos…Venha ver, Raquel, é impressionante como tinha olhos iguais aos seus.
Ela desceu a escada, encolhendo-se para não esbarrar em nada.
– Que frio que faz aqui. E que escuro, não estou enxergando…
Acendendo outro fósforo, ele ofereceu-o à companheira.
– Pegue, dá para ver muito bem…- Afastou-se para o lado.- Repare nos olhos.
– Mas estão tão desbotados, mal se vê que é uma moça…- Antes da chama se apagar, aproximou-a da inscrição feita na pedra. Leu em voz alta, lentamente.- Maria Emília, nascida em vinte de maio de mil oitocentos e falecida…- Deixou cair o palito e ficou um instante imóvel – Mas esta não podia ser sua namorada, morreu há mais de cem anos! Seu menti…
Um baque metálico decepou-lhe a palavra pelo meio. Olhou em redor. A peça estava deserta. Voltou o olhar para a escada. No topo, Ricardo a observava por detrás da portinhola fechada. Tinha seu sorriso meio inocente, meio malicioso.
– Isto nunca foi o jazigo da sua família, seu mentiroso? Brincadeira mais cretina! – exclamou ela, subindo rapidamente a escada. – Não tem graça nenhuma, ouviu?
Ele esperou que ela chegasse quase a tocar o trinco da portinhola de ferro. Então deu uma volta à chave, arrancou-a da fechadura e saltou para trás.
– Ricardo, abre isto imediatamente! Vamos, imediatamente! – ordenou, torcendo o trinco.- Detesto esse tipo de brincadeira, você sabe disso. Seu idiota! É no que dá seguir a cabeça de um idiota desses. Brincadeira mais estúpida!
– Uma réstia de sol vai entrar pela frincha da porta, tem uma frincha na porta. Depois, vai se afastando devagarinho, bem devagarinho. Você terá o pôr do sol mais belo do mundo.
Ela sacudia a portinhola.
– Ricardo, chega, já disse! Chega! Abre imediatamente, imediatamente!- Sacudiu a portinhola com mais força ainda, agarrou-se a ela, dependurando-se por entre as grades. Ficou ofegante, os olhos cheios de lágrimas. Ensaiou um sorriso. – Ouça, meu bem, foi engraçadíssimo, mas agora preciso ir mesmo, vamos, abra…
Ele já não sorria. Estava sério, os olhos diminuídos. Em redor deles, reapareceram as rugazinhas abertas em leque.
– Boa noite, Raquel.
– Chega, Ricardo! Você vai me pagar!… – gritou ela, estendendo os braços por entre as grades, tentando agarrá-lo.- Cretino! Me dá a chave desta porcaria, vamos!- exigiu, examinando a fechadura nova em folha. Examinou em seguida as grades cobertas por uma crosta de ferrugem. Imobilizou-se. Foi erguendo o olhar até a chave que ele balançava pela argola, como um pêndulo. Encarou-o, apertando contra a grade a face sem cor. Esbugalhou os olhos num espasmo e amoleceu o corpo. Foi escorregando.
– Não, não…
Voltado ainda para ela, ele chegara até a porta e abriu os braços. Foi puxando as duas folhas escancaradas.
– Boa noite, meu anjo.
Os lábios dela se pregavam um ao outro, como se entre eles houvesse cola. Os olhos rodavam pesadamente numa expressão embrutecida.
– Não…
Guardando a chave no bolso, ele retomou o caminho percorrido. No breve silêncio, o som dos pedregulhos se entrechocando úmidos sob seus sapatos. E, de repente, o grito medonho, inumano:
– NÃO!
Durante algum tempo ele ainda ouviu os gritos que se multiplicaram, semelhantes aos de um animal sendo estraçalhado. Depois, os uivos foram ficando mais remotos, abafados como se viessem das profundezas da terra. Assim que atingiu o portão do cemitério, ele lançou ao poente um olhar mortiço. Ficou atento. Nenhum ouvido humano escutaria agora qualquer chamado. Acendeu um cigarro e foi descendo a ladeira. Crianças ao longe brincavam de roda.

Lygia Fagundes Telles In:.Antes do Baile Verde. 1970.
Publicado aqui

NOTA DA BLOGUEIRA: É por isso que não sou amiga de ex-namorado ahahahah









Beijões Gordos,

Claudia Rocha GorDivah
Snap: gordivah

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Moda Gorda - Vale Plus

A blogueira e consultora de moda Débora Fernandes e a modelista e empreendedora Wendi Caires uniram suas experiências no segmento plus size para possibilitar que a moda seja mais democrática, moderna e acessível para o público do Vale do Paraíba.

Juntas, organizaram as duas primeiras edições do Vale Plus, em fevereiro e julho de 2017. A feira de moda plus size tem como objetivo reunir  consumidores desse segmento no Vale do Paraíba e fornecedores de diferentes estilos. A terceira edição do Vale Plus acontecerá no dia 26 de novembro, em São José dos Campos.

            Mais do que a moda, o evento promove a inserção e a autoestima. “Fico muito feliz de vê-las saindo cheias de sacola, mas nosso melhor retorno são os depoimentos sobre autoestima e como a relação das mulheres com seus corpos mudaram e como se sentem felizes ao encontrar peças e artigos que sempre quiseram em um só lugar.” diz Débora Fernandes.

O crescimento da moda plus size é uma ferramenta muito importante para o empoderamento feminino, pois permite que as mulheres tornem-se mais confiantes ao utilizarem roupas e acessórios sem preocupar-se com a validação da sociedade.

 

A feira serácomposta por 32 stands com variedade de moda plus size e acessórios. A área externa vai contar com food truck e área kids. Para Wendi Caires a feira é um momento de confraternização: “Será um evento para toda família, queremos que nossas convidadas passem o domingo com a gente. Os maridos também são bem vindos, teremos opções de moda masculina plus size e chopp”.

 

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Chikungunya: a visão do clínico de dor


Chikungunya: a visão do clínico de dor
Anita Perpetua Carvalho Rocha de Castro1 
Rafaela Araújo Lima1 
Jedson dos Santos Nascimento1 
1Santa Casa da Misericórdia da Bahia, Hospital Santa Izabel, Departamento de Anestesiologia, Salvador, BA, Brasil.

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS:
A chikungunya é uma doença viral de distribuição tropical que acomete indivíduos em diferentes países do mundo e está associada a quadro clinico variável, caracterizado pela existência de duas fases: aguda e crônica. A fase aguda é de curta duração e de sintomas inespecíficos. A fase crônica é marcada pela presença de dor persistente, com comprometimento da qualidade de vida dos pacientes. O objetivo deste estudo foi discutir a chikungunya sob a ótica do clinico de dor, atentando para os seus aspectos epidemiológicos, fisiopatológicos, diagnósticos e terapêuticos, principalmente no que diz respeito ao tratamento dos sintomas álgicos.

CONTEÚDO:
A fisiopatologia da chikungunya é pouco compreendida e envolve mecanismos predominantemente periféricos. O seu diagnóstico é feito por meio da observação de quadro clinico sugestivo, associado a realização de exames laboratoriais específicos. A condução dos pacientes com diagnóstico confirmado envolve a utilização de analgésico comum e anti-inflamatório, além de corticosteroides, antidepressivos e anticonvulsivantes nos casos refratários. Pacientes com doença reumática inflamatória crônica parecem se beneficiar do uso de metotrexato.

CONCLUSÃO:
A chikungunya é uma entidade complexa e ainda pouco compreendida. Diferentes esquemas terapêuticos estão disponíveis para o tratamento do quadro álgico a ela associado, entretanto 40% dos pacientes evoluem com dor crônica e comprometimento da qualidade de vida.
Descritores: Artralgia; Chikungunya crônica; Dor; Febre

INTRODUÇÃO
A chikungunya é uma doença febril aguda associada a dor intensa e frequente poliartralgia debilitante. É causada pelo vírus da Chikungunya, um alfavírus pertencente à família Togaviridae, transmitido por meio da picada da fêmea infectada do mosquito Aedes aegypti e Aedes albopictus1. Sabe-se que o vírus da chikungunya é capaz de acometer células endoteliais e epiteliais humanas, fibroblastos, dendritos, macrófagos e células B, assim como células musculares2, implicando a possibilidade de diferentes apresentações clínicas.
Artrites por alfavírus, incluindo o vírus da chikungunya, tem sido relacionada a doença prolongada. Segundo diferentes autores, considerando ambas, a incidência de chikungunya nos últimos 10 anos no mundo e a prevalência de sintomas persistentes no primeiro ano após a infecção aguda, o número cumulativo de indivíduos infectados por chikungunya sofrendo de dor incapacitante e de longa duração é estimado em 1 a 2 milhões3-5. A chikungunya é a arbovirose associada a maior grau de manifestações reumatológicas.
A chikungunya foi inicialmente descrita em 1952, em Newala, distrito de Tanganica, no leste da África. O seu nome refere à postura inclinada adotada pelos indivíduos em função dos sintomas álgicos resultantes do acometimento articular, tendo sua origem no idioma da Tanzânia e de Moçambique6. Trata-se de uma doença cuja distribuição geográfica engloba a África, a Ásia e a América do Sul, regiões tidas como áreas endêmicas. Entretanto, apesar de haver o reconhecimento de áreas endêmicas, a chikungunya é uma ameaça à população que vive em áreas tropicais com características sazonais, as quais favorecem o desenvolvimento do Aedes aegypti e do Aedes albopictus. Em 2007, uma turista infectada proveniente da Índia introduziu a chikungunya no norte da Itália, resultando na identificação de 292 casos suspeitos.
O objetivo deste estudo foi discutir a chikungunya sob a ótica do clinico de dor, atentando para os seus aspectos epidemiológicos, fisiopatológicos, diagnósticos e terapêuticos, principalmente no que diz respeito ao tratamento dos sintomas álgicos.

QUADRO CLÍNICO
O espectro clínico da chikungunya é amplo. Sabe-se que o período de incubação é de dois a seis dias, com os sintomas aparecendo quatro a sete dias após a infecção. A chikungunya tende a apresentar-se em duas fases: aguda e crônica. Na fase aguda, os indivíduos apresentam-se com febre alta, calafrio, cefaleia, náusea, vômito, fadiga, dor nas costas, mialgia e artralgia simétrica. Essa última pode ser intensa, afetando as extremidades, principalmente os tornozelos, punhos e falanges. O padrão da artralgia é errático, embora haja uma tendência para que seja mais intensa pela manhã e piore com atividade física mais agressiva. Quando a dor articular persiste além do período de recuperação, tem-se a fase crônica da doença. Nesta, a poliartralgia prolonga-se por semanas a anos e compromete a qualidade de vida (QV) do paciente.
Acredita-se que a infecção pelo vírus da chikungunya possa contribuir para o desenvolvimento de uma doença inflamatória reumática ou até mesmo colaborar para o diagnóstico precoce de artrite reumatoide e artrite psoriática em pacientes suscetíveis. Nesse contexto, biomarcadores devem ser pesquisados, como proteína C reativa, velocidade de hemossedimentação, fator reumatoide, anticorpo anti-peptídeo cíclico citrulinado (anticorpo anti-CCP) e expressão de HLA-B277-9. Quando necessário, exames de imagem devem ser solicitados. Resultados de ressonância nuclear magnética (RNM) são representados por derrame articular, erosões ósseas, edema ósseo, espessamento sinovial, tendinite e tenossinovite. Essa observação contribui para a classificação da artrite por chikungunya como uma artrite crônica inflamatória erosiva.
Em um estudo retrospectivo realizado por Javelle et al.10, 112 pacientes apresentaram critério para doença reumatológica inflamatória crônica. Dezoito pacientes tinham diagnóstico prévio de doença reumatológica e 94 obtiveram esse diagnóstico após a infecção pela chikungunya. Vinte e sete por cento desses pacientes apresentaram inabilidade para trabalhar e 77% referiram redução de suas atividades diárias. Metade dos pacientes com diagnóstico de doença reumatológica após a infecção pela chikungunya apresentou alterações radiológicas representadas pela destruição osteoarticular. A média de tempo entre a chikungunya aguda e o diagnóstico radiológico da lesão foi de 45 meses. Alguns pacientes apresentaram espondiloartrite, sacroileite e erosões ósseas. Acredita-se que a lesão articular seja decorrente da resposta do sistema imunológico, com consequente artrite autoimune.
Diferentes preditores têm sido envolvidos no desenvolvimento desse quadro mais arrastado da chikungunya, caracterizado pela presença de dor musculoesquelética persistente. Dentre eles destacam-se idade superior a 45 anos, dor articular inicial intensa, osteoartrite anterior11 e forte resposta IgG-específica ao vírus da chikungunya no período de recuperação e na fase crônica, os quais parecem ser indicadores independentes de não recuperação.
Sabe-se que os sintomas crônicos diminuem com o tempo após uma infecção inicial, sendo de 88 a 100% durante as primeiras seis semanas e de menos de 50% após três a cinco anos, com resultados variáveis dependendo do estudo. O tempo de recuperação completa ainda é incerto e alguns indivíduos infectados ainda permanecem sintomáticos seis a oito anos após a infecção inicial12,13.
Embora raras complicações graves da chikungunya tenham sido descritas, elas incluem miocardite, meningoencefalite, e hemorragia. Alguns pacientes desenvolvem uveite e retinite. Morte por chikungunya é pouco frequente, mas pode acometer em indivíduos idosos com comorbidades e crianças.

FISIOPATOLOGIA
A fisiopatologia da chikungunya é pouco compreendida e envolve mecanismos predominantemente periféricos. Segundo Chow et al.14, a fase aguda está associada à viremia, isto é, sintomas clínicos que refletem a carga viral e o início da imunidade inata, estando relacionada com elevado nível de citocinas pro-inflamatórias tais como alfa-interferon e IL-6, IL 1Ra, IL-12, IL-15, IP-10 e MCP-1. Após esse período inicial, que dura até 4 dias, observa-se uma rápida redução da viremia e do quadro de dor articular, com consequente melhora da QV. Nos 5 a 14 dias subsequentes, período conhecido como de convalescença, os pacientes não apresentam mais viremia detectável, entretanto alguns indivíduos persistem com sintomas. Estudos demonstram que mais de 40% dos pacientes evoluem para a forma crônica da doença.
Os mecanismos fisiopatológicos da dor musculoesquelética e da artrite crônica após infecção pelo vírus da chikungunya são parcialmente conhecidos. Acredita-se que esses sintomas sejam decorrentes do escape precoce do vírus da chikungunya do interior dos monócitos e consequente relocação nos macrófagos sinoviais. Essa hipótese tem sido reforçada pela observação da persistência, por tempo prolongado, do vírus da chikungunya em tecidos musculares, articulares, hepático e linfoide15.
Queixas neurológicas podem estar presentes em 40% dos pacientes. Destes, 10% irão evoluir com manifestações persistentes. Neuropatia periférica com predomínio de componente sensitivo é a apresentação mais comum. Neuropatia motora é rara. Acredita-se que dor e parestesia podem estar associadas a neuropatia compressiva. Saxena et al.16 demonstraram por meio de exame eletroneuromiográfico e da realização de exame físico neurológico, que pacientes com chikungunya cursam frequentemente com dor neuropática de origem periférica. Sabe-se que a dor neuropática, geralmente descrita como sensação de choque ou queimação, está associada a maior comprometimento da QV do paciente e maior dificuldade de tratamento.
Ao analisar a fisiopatologia da chikungunya, observa-se que a dor pode apresentar origem mista, com envolvimento de mecanismos nociceptivos e neuropáticos.

DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da chikungunya inclui a confirmação laboratorial da infecção, baseado na sorologia, PCR em tempo real (RT-PCR) ou isolamento viral, associado à presença de quadro clínico sugestivo da doença. Trinta por cento dos indivíduos infectados são assintomáticos. Anticorpos IgM, demonstráveis por teste de ELISA, podem surgir em duas semanas, entretanto, alguns pacientes só irão produzir anticorpos suficientes para ser detectados pelo teste citado seis a 12 semanas após o quadro inicial.
Exames laboratoriais gerais devem ser solicitados. Em estudo realizado na Ásia17 que avaliou a evolução de pacientes portadores de chikungunya foram identificadas leucopenia, trombocitopenia, neutropenia e anormalidade do perfil hepático em muitos pacientes, em uma proporção de 94% para leucopenia e 14% para alteração do perfil hepático.
Em função do quadro clínico semelhante é importante afastar a presença de artrite reumatoide. Na artrite associada a chikungunya os níveis de fator reumatoide e anticorpo anti-CCP não são elevados, entretanto é fundamental enfatizar que estudos demonstram que um terço dos pacientes portadores de chikungunya preenchem os critérios do Colégio Americano de Reumatologia para o diagnóstico de artrite reumatoide18. Nos pacientes com dor crônica não articular, deve-se investigar rabdomiólise, depressão e síndrome fibromiálgica19.

TRATAMENTO
Apesar do crescente diagnóstico de chikungunya, não há recomendação baseada em "guidelines" para o seu tratamento. Não se dispõe de terapia antiviral específica nem vacina preventiva. O objetivo do tratamento, portanto, é controlar a febre, reduzir o impacto do processo imunológico, tratar a dor, eliminar o edema, minimizar os efeitos das erupções e evitar o aparecimento de lesões articulares crônicas. Os pacientes são orientados a adotar cuidados gerais e a utilizar fármacos como antipiréticos e analgésicos; entretanto, alguns indivíduos permanecem sintomáticos.
Dentre os sintomas descritos, a dor merece destaque, por seu impacto negativo na QV do individuo, apresentando-se como um desafio para os profissionais de saúde. Analgésicos simples e anti-inflamatórios não hormonais (AINH), ao bloquearem a formação de mediadores inflamatórios e a síntese de prostaglandinas promovem alívio na maioria dos pacientes, porém 40% deles necessitam fazer uso de fármacos mais potentes, com diferentes mecanismos de ação.
Pacientes com desordens musculoesqueléticas associadas à chikungunya, com poliartralgia envolvendo as mãos e pés, tipicamente apresentando edema e outros sinais flogísticos, beneficiam-se da utilização de ciclos curtos de corticosteroide. Sabe-se que os corticosteroides atuam reduzindo o fenômeno inflamatório e bloqueando o processo imunológico, particularmente na fase aguda da doença20,21. Não há consenso quanto ao melhor esquema de tratamento, entretanto, alguns autores recomendam prednisona por via oral na dose de 40 a 60mg ao dia, por três a cinco dias. Uma alternativa seria a dexametasona 4mg a cada 8h, por via oral ou parenteral, por três dias e, nos casos refratários, a aplicação de corticosteroide intra-articular10. Pacientes com parestesia devem ser abordados com fármacos específicos para o tratamento de dor neuropática. Dentre estes se destacam os antidepressivos tricíclicos, os anticonvulsivantes gabapentinoides e os opioides, como o tramadol22. Os antidepressivos tricíclicos inibem a recaptação de noradrenalina e serotonina, fortalecendo as vias descendentes inibitórias da dor. Os gabapentinoides, por sua vez, diminuem o influxo de cálcio e posterior liberação de neurotransmissores como o glutamato, a substância P e o peptídeo geneticamente relacionado à calcitonina, os quais estão envolvidos com dor persistente, de difícil controle. A dose deve ser titulada em função do perfil do paciente e da resposta clinica apresentada. No tratamento da dor neuropática, a pregabalina deve ser utilizada na dose de 150 a 600mg ao dia e a gabapentina na dose de 900 a 3600mg ao dia23.
O metotrexato (MTX), na dose média de 15mg por semana, parece ser benéfico nas poliartrites reumáticas inflamatórias desenvolvidas após a chikungunya. O MTX tem sua utilização justificada pela observação da presença de monócitos e macrófagos no tecido sinovial de pacientes crônicos, possivelmente pela persistência do vírus nessa localidade24.
Os casos com artralgia prolongada e rigidez articular podem se beneficiar de um programa progressivo de fisioterapia. O movimento e o exercício moderado tendem a melhorar a rigidez matinal e a dor, porém o exercício intenso pode exacerbar os sintomas álgicos.

CONCLUSÃO
A chikungunya é uma entidade complexa e ainda pouco compreendida. Acredita-se que sua fisiopatologia envolva mecanismos nociceptivos e neuropáticos. Diferentes esquemas terapêuticos estão disponíveis para o tratamento do quadro álgico a ela associado, entretanto 40% dos pacientes evoluem com dor crônica e comprometimento da QV. Novos estudos são necessários para definir a melhor conduta a ser adotada.

Fontes de fomento: não há.

REFERÊNCIAS
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Beijões Gordos,

Claudia Rocha GorDivah
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